terça-feira, 31 de maio de 2011

Alice Dias uma história à parte por Vagner Meira Cotrim



Há quem diga que relembrar o passado é ruim. E quem vive de passado é museu, mas é preciso resgatar o passado para entendermos o presente e sonharmos com um possível e melhor futuro.
Era uma vez um lugarzinho no interior da capital, com espraiados, mananciais e ribeirinhas. Dono de tudo isso um Coronel que tinha um sonho; “Desejo ouvir o apito de um trem anúncio sonoro do progresso para toda a nossa região”. E da varanda com os pés esticados anos depois de doar uma vasta extensão de terra coberta de mata e desbravada pelas primeiras famílias, ouvia apitar um trem.
Faleceu José Venâncio, quando Colina estava em pleno progresso, prestes a se tornar um município de verdade. Seu nome foi doado em memória a um grupo escolar que anos depois pedia uma ponte para que suas crianças não tivessem que atravessar os trilhos para freqüentar a escola. A ponte recebeu o nome de “Alice Dias” que era filha de Cel. José Venâncio Dias, uma santa, que dedicou sua vida a ajudar o próximo que também deu seu nome a uma maternidade.
Bem do ladinho da ponte a estação ferroviária, quantos já chegaram e se despediram por ali, o progresso, o crescimento, tudo girava em torno da estação. Hoje, entregue ao tempo, a única coisa que circula por ali não é Maria fumaça, trem de carga ou passageiros. A fumaça é bem diferente do que aquela que se via sair da chaminé da “fodoca”, vem em menor quantidade e é tragada com calmaria por aqueles que ali freqüentam. Ao invés de trem circulam bandidos que estão bem à vontade por sinal, demarcam seu território feito animais, depredando, acasalando-se, multiplicando-se e já são muitos a olhos vistos, olhos de predadores, a espreita, famintos e dispostos a atacar presas fáceis: os filhos de Colina. O anuncio sonoro que se ouve não é mais o apito de um trem é agora pedido de socorro, de um socorro que não vem, Alice estava lá e fez o que pode pra ajudar, alguns vizinhos também, a policia chegou e cumpriu seu papel, oferecendo conforto e saindo na tentativa de ao menos tentar trancafiar o animal e acredito que muito em breve isso acontecerá, acredito nos profissionais que são. Os animais estão soltos, predadores, atacam rápido e se vão, deixando marcas, e o que nos resta é medo, medo de seguir em frente, medo de sentar na varanda e esticar os pés como fazia um certo Coronel, medo e vergonha de morar numa cidade onde animais que deveriam estar presos passeiam por nosso quintal enquanto nós nos trancamos atrás de grades e muros altos para nos proteger . Deixo a todos um conselho: denunciem sempre, não se calem diante do crime, ajudem a policia a cumprir o seu trabalho, e enquanto a ponte, deem a volta, porque a ponte que foi feita para encurtar caminhos, pode também fatalmente encurtar sua vida.

Vagner Cotrim
Ator, palhaço e futuro ex morador de Colina. Publicado em 12/05/2011 Jornal "O Colinense" n.1499 Ano XC - Espaço do leitor

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