sexta-feira, 20 de maio de 2011

Colinenses nº 36 - Parada Paulista - Crônica do Emb. Renato Prado Guimarães



Parada paulista

                     Nos idos dos 1950, grandes celebrações em torno do Quarto Centenário da cidade, nasce o Ibirapuera, dá seus primeiros passos a Bienal, a excelsa São Paulo é cantada em prosa e verso. Gloriosa, a cidade exulta no slogan vaidoso:
                     São Paulo não pode parar! 
                     E daí por diante, nas décadas seguintes, vai a cidade bandeirante no mesmo diapasão deslumbrado.
                     A cidade que mais cresce no mundo!
                    Até que, já nos 1970, surge um inusitado prefeito, engenheiro brilhante mas profissional discreto e previdente, que choca os paulistanos incautos com o anti-slogan
                    São Paulo tem que parar!
                    Parou?
                    Isso aconteceu contados 40 anos atrás. O nome do prefeito é José Carlos de Figueiredo Ferraz, que ocupou aquele cargo de 1971 a 1973. Professor titular de duas cátedras da Poli, foi Secretário de Obras, depois dos Transportes do Estado de São Paulo,  e quem começou as obras da primeira linha de metrô, a Norte-Sul. A ele igualmente se deve a Lei de Zoneamento da Capital  Apesar de tudo o que fez para melhorar a cidade, não fugia ao dever de insistir em que  ela desse uma pausa em seu crescimento exacerbado.  Com as resistências e incompreensões  de esperar. Olhem o que se lê na Wikipédia, no verbete que lhe corresponde:
                    “Foi demitido abruptamente pelo governador Laudo Natel, logo depois de dizer que "São Paulo precisa parar de crescer", frase que é às vezes citada como "São Paulo precisa parar", e que rompia com expressões orgulhosas como "São Paulo não pode parar" , "A cidade que mais cresce no mundo" e outras. A época era marcada pelos projetos de desenvolvimento dos militares e a frase de Ferraz soou como dissidente em face a eles”.
                    Fique o registro. Em homenagem a um verdadeiro visionário, cuja acuidade visual contrasta com a miopia política de então, e dos anos seguintes, e de agora,  no tocante aos rumos da grande cidade. E, no fundo, como dito antes nestas Colinenses, visionário é tão-somente aquele que vê o óbvio primeiro.
                     Quando fala em São Paulo parar, não é, decerto,  que  o engenheiro tenha querido acabar com ela. A parada seria, ao contrário, para rearranjá-la e salvá-la, no gênero da freada de arrumação inventada pelos motoristas de ônibus cariocas para mais bem distribuir sua carga (expressão inovadora, que, por sinal, vem ganhando os meios intelectuais politicamente corretos,  embora com uma conspícua elitização vocabular: brecada de acomodação).
                     São Paulo precisa é de liderança para convencer a cidade e o Estado do óbvio: é preciso ela arrefecer o ritmo a fim de reavaliar-se, definir caminhos e estratégias, reajustar-se como a cidade justa, humana, confortável, esclarecida e progressista que todos desejamos. Chega de remendos demagógicos, que fingem atender uma parte mas só eternizam a agonia do todo; a reforma tem de ser  a partir da raiz, e geral!
                    Que plataforma eleitoral, gente, para os partidos nanicos, à cata de uma brecha para disputar o poder neste País com tanto protagonista mas em vácuo político  virtual (será que só eu estou vendo o óbvio?).
                    Plataforma? Que nada.
                    Catapulta!
                    Fosse eu político, tava nessa, firme. Ah, que saudade que eu tenho...
                     Depois daquela pausa pra recomeçar, minha São Paulo  recomeçaria, decerto -  e seria imparável.
                     Amém.



                    P.S. - São Paulo parou? A bem da verdade, algo parou, sim, e cabalmente – o trânsito, do que são testemunhas involuntárias, cotidianas, todos os milhões que se aventuram pelas ruas – a menos que estejam de rodízio... Estorinha rápida: A amigos australianos que regressam do Brasil, entusiasmados com o País, pergunto sobre as dificuldades do trânsito em São Paulo. Retorque um deles: Mas que dificuldades de trânsito? Eu não vi nenhuma! Sem antecipar a gozação, ainda perguntei, honesto e ingênuo: Mas como, o trânsito é péssimo, volta e meia para tudo! Aí vem a tréplica, terminal: Pois é isso aí, não há dificuldade no   trânsito simplesmente porque não há trânsito. Trânsito implica movimento, e isso não tem em São Paulo. O problema lá não é de trânsito, é de estacionamento nas ruas! (“parking in the streets!“).


SOBRE O AUTOR:

Renato Prado Guimarães nasceu em Colina, Estado de São Paulo.
Começou a carreira profissional como jornalista, nas “Folhas” e no “O Estado de S. Paulo”; paralelamente, formou-se na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco.Diplomata desde 1963, foi Secretário de Embaixada em Bruxelas e Bogotá, Chefe do Escritório Comercial do Brasil nos EUA, Cônsul Geral ad interim em Nova York, Ministro-Conselheiro na Embaixada em Washington e Encarregado de Negócios junto aos EUA, ad ínterim.Promovido a
Embaixador em 1987, exerceu aquela função na Venezuela, no Uruguai e na Austrália (cumulativamente, também na Nova Zelândia e em Papua-Nova Guiné). Foi igualmente Cônsul-Geral do Brasil em Frankfurt, na Alemanha, e em Tóquio, no Japão.
No Brasil, foi Chefe da Divisão de Programas de Promoção Comercial, porta-voz do Itamaraty na gestão Olavo Setúbal e Chefe do Gabinete do Ministro Abreu Sodré; fora de Brasília, foi Chefe do Escritório do Ministério das Relações Exteriores em São Paulo – ERESP, que instalou.Aposentou-se em abril de 2.008. Reside atualmente em Colina, sua terra natal, interior de São Paulo, Brasil.

É o autor de “Crônicas do Inesperado”, lançado em outubro de 2.009.




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