Insegurança auditiva
Gerou muito alarido (ou contra-alarido...) a Colinenses no. 7, sobre os “Sons de Colina” – até porque, por mera coincidência, veio na cola de um inspirado e justificado protesto no “O Colinense” a propósito da “poluição sonora” de Colina.
Quem sabe o Paçoca devesse aproveitar a onda e pôr um anúncio discreto num dos incontáveis arautos cacofônicos que perambulam por nossa urbe. Bem baixinho, em pronúncia de sedução, voz feminina, quase ciciada, como aquela de aeroporto de antigamente, o anúncio poderia dizer:
“Falando macio, para não ferir seus ouvidos,
macio como suas botinas, a Sapataria Fera
convida você para conhecer suas novas
instalações, à Rua Sete, .... Sapataria Fera,
falando macio, como suas botinas, para não
machucar o ouvido de ninguém. Macio, macio –
macio que nem Paçoca. Sapataria Fera!”.
Quem não sabe que quando a gente fala baixo os outros prestam mais atenção?
Já me alertaram para o desvario que será a campanha eleitoral, com tanto engenho peripatético tonitruando candidaturas e partidos, competindo nas frequências mais potentes, sem pena dos ouvidos a seu alcance.
Pelo que ouvi do repúdio geral, consensual, à violência sonora nas ruas de Colina, eu, se fosse candidato, escolheria a mudez; nada mais eficiente do que o silêncio significativo.
Ou até pensaria num anúncio político assim, em volume sóbrio, dicção moderada:
“Este anúncio é do Candidato Fulano. Para não
machucar seus ouvidos, o candidato doa um
momento de silêncio para o alívio de seus
eleitores (segue a pausa misericordiosa). Votem
no Candidato Fulano, que respeita seus ouvidos
e para vocês será sempre todo ouvidos - com a
atenção e o carinho que bem merecem. Viva a
tranquilidade, viva o silêncio! Viva Colina!”.
Nenhuma dúvida cabe de que Colina vive em estado de insegurança auditiva. A ponto de que me disseram que há gente querendo comprar um decibelímetro para a cidade. De-ci-be-lí-me-tro? Fui ao dicionário e vi que é a mesma coisa que sonômetro. Sonômetro? Equivale, segundo o Houaiss, a audiômetro. O que quer que seja, essa geringonça métrica e acústica, que venha e nos proteja!
Amém.
Renato Prado Guimarães nasceu em Colina, Estado de São Paulo.Começou a carreira profissional como jornalista, nas “Folhas” e no “O Estado de S. Paulo”; paralelamente, formou-se na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco.Diplomata desde 1963, foi Secretário de Embaixada em Bruxelas e Bogotá, Chefe do Escritório Comercial do Brasil nos EUA, Cônsul Geral ad interim em Nova York, Ministro-Conselheiro na Embaixada em Washington e Encarregado de Negócios junto aos EUA, ad ínterim.Promovido aEmbaixador em 1987, exerceu aquela função na Venezuela, no Uruguai e na Austrália (cumulativamente, também na Nova Zelândia e em Papua-Nova Guiné). Foi igualmente Cônsul-Geral do Brasil em Frankfurt, na Alemanha, e em Tóquio, no Japão.No Brasil, foi Chefe da Divisão de Programas de Promoção Comercial, porta-voz do Itamaraty na gestão Olavo Setúbal e Chefe do Gabinete do Ministro Abreu Sodré; fora de Brasília, foi Chefe do Escritório do Ministério das Relações Exteriores em São Paulo – ERESP, que instalou.Aposentou-se em abril de 2.008. Reside atualmente em Colina, sua terra natal, interior de São Paulo, Brasil.
É o autor de “Crônicas do Inesperado”, lançado em outubro de 2.009.
Para contatos, usar o endereço de e-mail rpguimar@gmail.com
Aberto às suas opiniões, sugestões, etc...
para saber mais sobre o autor, por favor, acesse os links:
http://colinaspaulo.blogspot.com.br/2012/04/renato-prato-guimaraes-autor-colinense.html
ou seu blog:
http://www.ccbf.info/blog
Nenhum comentário:
Postar um comentário