Tardes de mangueiras carregadas
O poeta-neurocientista respondeu ao desafio! De bate-pronto, com inspiração de poeta e agudeza diagnóstica de psicoterapeuta experimentado e arguto. E parece que veio outra vez pra cima de mim! Ou é mera análise dele próprio, autobiográfica?
Pasmo, li, e vocês lerão, esta obra-prima do poeta-neurocientista-psicoterapeuta-diplomata, que merece ir para outras páginas, eletrônicas e impressas, a fim de surpreender e agradar ainda mais leitores:
RECORDARE
(Ao Embaixador Renato Prado Guimarães)
Cláudio L. N. Guimarães dos Santos
I
A alegria dos começos, a coragem sem limites, a certeza absoluta,
Viveram todas na minha infância,
Naquelas tardes de sol forte, de um céu azul impecável e de mangueiras carregadas.
As ruas desertas e quentes selavam-me as bordas do corpo com uma calma carinhosa que nunca depois encontrei.
II
Veio, então, uma brisa fria e chata, que soprou sempre mais forte,
E que varreu, com a poeira do terreiro, os pulos da amarelinha e os ecos do pique-esconde.
(Entrementes:
Criei laços que cortei incomodado.
Esbarrei com galantes perfumados no abafado das latrinas dos palácios, e toquei nas suas almas: quantos vãos!
Fui reflexo nas baixelas dos banquetes, no congelado dos lagos, no olhar das namoradas, no vazio das conversas.
Calei-me sempre que pude, mas disse o que não devia.
Fui criança, desconsolo, turbilhão, inquietude.)
III
Por fim, veio a noite,
Que para mim nunca foi repouso,
Mas silêncio esfumaçado,
Cheio de faces enrugadas, fantasmas coléricos e mãos violentas.
(No sagrado cotidiano da memória,
Que é convívio luminoso com a morte,
Sou, agora, imagens que se transmutam,
Borrando as fímbrias dos entes,
Dissolvendo os meus contornos,
Recriando as minhas essências,
Oscilando do caos ao caos,
Renascendo das cinzas próprias,
Refazendo os meus começos,
Redefinindo os meus fins,
Pela estrada solitária,
Que vai da praça à clausura,
Da exposição ao retiro,
Da fantasia das coisas à concretude dos sonhos...
E abandono-me a esse ritmo
Como o cadáver de Ofélia,
Como os soluços de Werther,
Como as saudades de Orfeu.)
IV
Epitáfio sinuoso:
“De braços com o velho tempo, gozo agora a madrugada,
Sabendo que o novo dia vai encontrar-me outro:
Pedra, planta, inseto ou passarinho.
E a vida continuará (no avesso do seu fluxo) a celebrar o mito.”
A quem a poesia se refere? Eu me li em muitos versos, entre bucólicos e melancólicos - também simbólicos. Interpretação astuta, inteligente. De dar medo.
Eu não contrataria o Claudio como biógrafo. Fiel demais à biografia...
Biógrafo bom é o que mente.
Mas se for autobiografia...
Renato Prado Guimarães nasceu em Colina, Estado de São Paulo.Começou a carreira profissional como jornalista, nas “Folhas” e no “O Estado de S. Paulo”; paralelamente, formou-se na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco.Diplomata desde 1963, foi Secretário de Embaixada em Bruxelas e Bogotá, Chefe do Escritório Comercial do Brasil nos EUA, Cônsul Geral ad ínterim em Nova York, Ministro-Conselheiro na Embaixada em Washington e Encarregado de Negócios junto aos EUA, ad ínterim.Promovido a Embaixador em 1987, exerceu aquela função na Venezuela, no Uruguai e na Austrália (cumulativamente, também na Nova Zelândia e em Papua-Nova Guiné). Foi igualmente Cônsul-Geral do Brasil em Frankfurt, na Alemanha, e em Tóquio, no Japão.No Brasil, foi Chefe da Divisão de Programas de Promoção Comercial, porta-voz do Itamaraty na gestão Olavo Setúbal e Chefe do Gabinete do Ministro Abreu Sodré; fora de Brasília, foi Chefe do Escritório do Ministério das Relações Exteriores em São Paulo – ERESP, que instalou.Aposentou-se em abril de 2.008. Reside atualmente em Colina, sua terra natal, interior de São Paulo, Brasil.
É o autor de “Crônicas do Inesperado”, lançado em outubro de 2.009.
Para contatos, usar o endereço de e-mail rpguimar@gmail.com
Aberto às suas opiniões, sugestões, etc...
para saber mais sobre o autor, por favor, acesse os links:
http://colinaspaulo.blogspot.com.br/2012/04/renato-prato-guimaraes-autor-colinense.html
ou seu blog:
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