Saltando o treze
Certa vez fiz parte de uma missão que procurava lugar para instalar um Consulado em Atlanta, nos EUA. Seria um Consulado mais voltado para as atividades de promoção de exportações. Vimos vários espaços, em diversos prédios, e nos fixamos em um no Peachtree Center (em Atlanta, tudo é Peachtree), que se afigurava o ideal para o que tínhamos em vista.
Já ao entrar no elevador, contudo, um colega me cutuca e acena para o número do andar: 24! Entendi a mensagem. Àquela altura, muito mais do que agora, o número levava a associações delicadas, podia não ser considerado, em Brasília, um bom endereço para repartição do Itamaraty. Sei lá! Pelo sim, pelo não, perguntamos ao corretor, que nos acompanhava: Vocês não têm o mesmo espaço em outro andar? O corretor disse que não e se estendeu, maçante como todo corretor, na descrição das vantagens do 24.
Quando conseguimos interrompê-lo, explicamos nossas razões, recorrendo ao Barão de Drummond e à estória dos sorteios no zoológico do Rio. Ele riu, e em tom de menoscabo, deboche mesmo: que preocupação mais tola, primitiva, coisa de gente atrasada, subdesenvolvida, preocupada com números que não representam nada...
Não gostamos, e um colega retrucou, incomodado e áspero: Pois se é assim, nós só alugamos o espaço se for no 13º. andar!
Rápido, o colega (o saudoso Roberto Rodrigues Krause, cedo falecido) havia notado no painel do elevador que o Peachtree, como tantos edifícios nos EUA, não tem o andar de no. 13.
Coisa tola, de gente atrasada, subdesenvolvida, primitiva, essa norte-americana?
Nessa coisa de superstição, eu sempre penso como no caso das bruxas: não acredito nelas, mas “que las hay, las hay”. E em toda parte e hora, como na resposta do ex-presidente Sarney neste admirável diálogo com jornalista:
- Presidente, o Senhor é supersticioso?
- Sim, muito
- E que superstições o Senhor tem?
- Todas!
Pois é, mais prudente é saltar o treze. Esta é a Colinenses no. 14. A próxima será a 15.
Como no Peachtree Center, o 13 deixa de existir. Atraso, primitivismo, fetichismo? Em meu caso, espero, só prudência, cautela.
Pois “que las hay, las hay”.
Renato Prado Guimarães nasceu em Colina, Estado de São Paulo.
Começou a carreira profissional como jornalista, nas “Folhas” e no “O Estado de S. Paulo”; paralelamente, formou-se na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco.Diplomata desde 1963, foi Secretário de Embaixada em Bruxelas e Bogotá, Chefe do Escritório Comercial do Brasil nos EUA, Cônsul Geral ad interim em Nova York, Ministro-Conselheiro na Embaixada em Washington e Encarregado de Negócios junto aos EUA, ad ínterim.Promovido a
Embaixador em 1987, exerceu aquela função na Venezuela, no Uruguai e na Austrália (cumulativamente, também na Nova Zelândia e em Papua-Nova Guiné). Foi igualmente Cônsul-Geral do Brasil em Frankfurt, na Alemanha, e em Tóquio, no Japão.
No Brasil, foi Chefe da Divisão de Programas de Promoção Comercial, porta-voz do Itamaraty na gestão Olavo Setúbal e Chefe do Gabinete do Ministro Abreu Sodré; fora de Brasília, foi Chefe do Escritório do Ministério das Relações Exteriores em São Paulo – ERESP, que instalou.Aposentou-se em abril de 2.008. Reside atualmente em Colina, sua terra natal, interior de São Paulo, Brasil.
É o autor de “Crônicas do Inesperado”, lançado em outubro de 2.009.
Para contatos, usar o endereço de e-mail rpguimar@gmail.com
Aberto às suas opiniões, sugestões, etc...
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