Quem conhece Inhotim?
Amiga me propõe irmos juntos visitar Inhotim.
- Não ouvi direito. Quê que é isso?
- I-nho-tim!
- Entendi o nome. Esquisito. Mas quê que é isso? Onde fica?
- Uma espécie de jardim botânico mais parque de artes. Perto de Belo Horizonte. Dizem que é uma beleza.
Mais pela amiga do que pelo Inhotim, lá fui eu. Não me arrependo. Valeu pelos dois: a amizade só fez crescer e Inhotim me deixou de boca aberta, queixo caído: realmente uma maravilha. Por sinal, a amiga também.
Quem conhece Inhotim?
O Guia 4 Rodas elegeu Inhotim, em 2011, a “Atração do Ano” no Brasil. E na edição de 2012 não lhe poupa elogios: “...é o maior centro de arte contemporânea a céu aberto do mundo”; “...nada no mundo se compara ao Inhotim”; “... a estrutura para turistas é de primeira, restaurantes, lanchonetes, monitores limpeza e conservação impecáveis”. O Itamaraty fez reunião internacional lá. O “New York Times”, usualmente cético, escreveu, derramado, que “poucas instituições se dão ao luxo de devotar milhares de acres de jardins, montes e campos a nada além de arte, e instalar a arte ali para sempre”. Na Internet, dezenas de sites se referem a Inhotim e o elogiam sem reservas, em rara unanimidade.
Mas ninguém conhece Inhotim.
E não é só arte contemporânea que tem lá. Exuberante é a arte maior, essencial e telúrica - a própria natureza, posta em relevo por meio de um paisagismo com culminâncias estéticas extraordinárias. Burle Marx tem um dedo em tudo, ainda quando póstumo. (Meu primo e amigo José Diniz também tem rastro seu lá, e muito vivo ainda, ele que concebeu e desenvolve uma ambiciosa réplica de diversos ecossistemas brasileiros em seu Haras de Montemor, de onde saíram, doados a Inhotim, muitos conselhos botânicos e caminhões e caminhões de mudas). A riqueza botânica é fantástica, exposta com cuidado de manicure do sopé ao topo das colinas e ao longo de cinco lagos de água em reconfortante tonalidade esmeralda. As variedades de palmeiras (1.400!), belíssimas, surpreendem a qualquer conhecedor leigo; e tem de tudo de vegetação nossa e alienígena, da familiar e cotidiana à rara e em geral esquiva a nossos olhos triviais.
Um presente de Minas ao Brasil, e ao mundo. Coisa de um empresário excêntrico (sadiamente) da área de mineração e siderurgia, Bernardo Paz, que resolveu associar natureza e arte, ecologia, educação e entretenimento, num projeto visionário, que precisa ser visto.
É o melhor passeio que você ainda não fez, como proclama um site na Internet.
Inhotim fica a uns 600 km de Colina, junto a Brumadinho, que está à beira da BR-381 – a Fernão Dias (São Paulo-Belo Horizonte). Daqui dá para ir via Sales de Oliveira, Batatais, São Sebastião do Paraíso, Passos, Divinópolis, desembocando em Betim, a vinte e poucos quilômetros do Parque – umas 8 horas de viagem, com direito a uma pausa na represa do rio Turvo, de Furnas, com hotéis, restaurantes, passeios de lancha, etc. As crianças vão adorar Inhotim: tem cachorro quente a cada volta dos caminhos, muito espaço para correr e pular, as instalações de arte são, muitas, bastante lúdicas – ensejando uma interação saudável e refrescante com a arte e entre todo mundo. Tem até guerra de travesseiro, dentro de uma instalação!
Nem tudo estará ao gosto de todo mundo e de algumas obras você pode não gostar (eu não gostei de várias, até porque já meio passadas, contemporâneas, sim, mas dos anos 70, 80 do século passado); mas sempre é bom ver um pouco dessa arte de vanguarda para ter uma ideia de como será o futuro. Aliás, a arte (humana) perde para a da natureza também na avaliação do próprio criador do lugar: “Eu não me considero um apaixonado pela arte. Jardins, isso é o de que eu realmente gosto”, disse numa entrevista ao “New York Times”.
Cuidado é preciso com a hospedagem. Brumadinho ainda não se encontra preparada para abrigar o turismo crescente de Inhotim, e há pousadas que alegam uma proximidade interessada com o Parque. Fui a uma que estava a 28 quilômetros. Mas que quilômetro! Asfalto, um pouco; o mais, terra – e terra escalavrada pelos caminhões das mineradoras, buracos em amplo sortimento, em toda extensão, direção e profundidade, da prosaica costela de vaca à cratera lunar. Hora e dez de viagem, sofrida, aos solavancos e sobressaltos, e aquela pena doída do carro novo.... Cheguei, aliás, a uma conclusão inspirada no meio de tanto sofrimento estradeiro: em matéria de estrada, onde não tem buraco o mineiro na certa põe lombada, o que faz as estradas de Minas tão montanhosas como seu relevo e sua alma, de declives assombrosos a cumes sublimes. (Essa aí, até o Oto Lara Rezende assinava, ele que foi o autor jamais confesso do genial “O mineiro só é solidário no câncer!”)
Demais, descobri nessa viagem, depois de incontáveis perguntas pelo caminho certo, e igual número de respostas, invariavelmente gentis mas no gênero “é bem aliii...”: pelo tempo que se leva para percorrer cada distância, o quilômetro mineiro é como o alqueire - mede o dobro. (Essa o Fernando Sabino também endossava, decerto.)
Dirão que tanto entusiasmo é um exagero do cronista. Mas na Internet (www.viajenaviagem.com/2010/ 09/Inhotim-o-melhor-passeio- que-voce-ainda-não-fez), encontrei, de autoria de Ricardo Freire, esta defesa antecipada: “Ainda estou para ler (sobre Inhotim) algum relato sóbrio – que dirá decepcionado. A reação parece ser uma só: visitou, deslumbrou”. Ademais, como observou, sabiamente, a amiga, “é bom incentivar as pessoas para curtir um programa sadio, perto da arte e a natureza tão belamente organizada”.
Viva Minas! Vamos conhecer Inhotim?
P.S. - Vim a saber, depois da viagem, que Bernardo Paz, além de excêntrico, é meio controvertido entre seus pares, de Minas e alhures, que lembram pecados empresariais graves que lhe são imputados. Mas aqui o que importa não é o autor, mas sim a obra – primorosa, esplêndida).
P.S. 2 – Se houver quem queira ir conhecer Inhotim, avise. Quem sabe a gente possa organizar um comboio colinense. Eu não hesitaria em voltar, botando de novo meu Nissan na estrada.
P.S. 3 – Pode ser exagero, mas todo o tempo vi o paisagismo dos lagos de Inhotim à luz do que se poderia fazer de semelhante ao redor do lago de Colina, tão bonito mas melancólico em sua consistência estética ainda monótona, tediosa. É preciso dar-lhe chispa, vida!
SOBRE O AUTOR:
Renato Prado Guimarães nasceu em Colina, Estado de São Paulo.
Começou a carreira profissional como jornalista, nas “Folhas” e no “O Estado de S. Paulo”; paralelamente, formou-se na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco.Diplomata desde 1963, foi Secretário de Embaixada em Bruxelas e Bogotá, Chefe do Escritório Comercial do Brasil nos EUA, Cônsul Geral ad interim em Nova York, Ministro-Conselheiro na Embaixada em Washington e Encarregado de Negócios junto aos EUA, ad ínterim.Promovido a
Embaixador em 1987, exerceu aquela função na Venezuela, no Uruguai e na Austrália (cumulativamente, também na Nova Zelândia e em Papua-Nova Guiné). Foi igualmente Cônsul-Geral do Brasil em Frankfurt, na Alemanha, e em Tóquio, no Japão.
No Brasil, foi Chefe da Divisão de Programas de Promoção Comercial, porta-voz do Itamaraty na gestão Olavo Setúbal e Chefe do Gabinete do Ministro Abreu Sodré; fora de Brasília, foi Chefe do Escritório do Ministério das Relações Exteriores em São Paulo – ERESP, que instalou.Aposentou-se em abril de 2.008. Reside atualmente em Colina, sua terra natal, interior de São Paulo, Brasil.
É o autor de “Crônicas do Inesperado”, lançado em outubro de 2.009.
Para contatos, usar o endereço de e-mail rpguimar@gmail.com
Começou a carreira profissional como jornalista, nas “Folhas” e no “O Estado de S. Paulo”; paralelamente, formou-se na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco.Diplomata desde 1963, foi Secretário de Embaixada em Bruxelas e Bogotá, Chefe do Escritório Comercial do Brasil nos EUA, Cônsul Geral ad interim em Nova York, Ministro-Conselheiro na Embaixada em Washington e Encarregado de Negócios junto aos EUA, ad ínterim.Promovido a
Embaixador em 1987, exerceu aquela função na Venezuela, no Uruguai e na Austrália (cumulativamente, também na Nova Zelândia e em Papua-Nova Guiné). Foi igualmente Cônsul-Geral do Brasil em Frankfurt, na Alemanha, e em Tóquio, no Japão.
No Brasil, foi Chefe da Divisão de Programas de Promoção Comercial, porta-voz do Itamaraty na gestão Olavo Setúbal e Chefe do Gabinete do Ministro Abreu Sodré; fora de Brasília, foi Chefe do Escritório do Ministério das Relações Exteriores em São Paulo – ERESP, que instalou.Aposentou-se em abril de 2.008. Reside atualmente em Colina, sua terra natal, interior de São Paulo, Brasil.
É o autor de “Crônicas do Inesperado”, lançado em outubro de 2.009.
Para contatos, usar o endereço de e-mail rpguimar@gmail.com
Aberto às suas opiniões, sugestões, etc...
para saber mais sobre o autor, por favor, acesse os links:
ou seu blog: http://www.ccbf.info/blog
Bom dia Sr Renato com muita curiosidade li e analisei cada detalhe de sua visita, uns meses atrás teve uma linda reportagem sobre esse local,, achei o maravilhoso, cheio de vida, o proprietário muito visionário,ousado e excentrico também, ver os caminhões ao redor indo em busca as palmeiras e trazendo as para o local e replantando as,,num custo altissimo,, mas que vale a pena a gente ver tantos locais sendo devastados por inumeras empresas e esses biologos, os que mantem Inhotim ali todos antenados em busca dessas plantas...e colocando as nesse maravilhoso parque com tanta sabedoria, amor e gentilezas,, fez suas palavras tudo o que vi nessa entrevista e ainda a Globo nos flashs dela sobre a natureza nos convida a Visitar esse paraiso que não está tão distante de nós.. ainda na entrevista a reporter nos apresenta os bancos que ali foram restaurados das arvores centenarias,, dando nos uma linda aula de conservação,, de proteção para com aquelas que de uma forma se vão mas seu aproveitamento fica e com muito cuidado é mantida e bem usada fazendo com que o turista passando pelo caminho possa sentar e rever os valores de uma gigante que um dia ofereceu sua sombra e hoje oferece seu assento...Realmente voce foi maravilhoso em descrever esse lugar que poucos conhecem e que ainda sua divulgacção não foi feita com tanta midia,,mas que existe sim naquele lugar uma riqueza de ideias,, de cultura, de sabedoria com a biodiversidade,as experiências que vem somente acrescentar e levar para outros a ideia que com amor, carinho e dedicação poderemos cuidar bem das coisas,, o parque, lago é maravilhoso isso só falo pois vi a matéria na TV, mas imagino isso sendo vivido presenciado.... posso imaginar seu encanto pelo local pois o meu ficou na memória..
ResponderExcluirSeria lindo se pudessemos organizar um evento levando os interessados em uma visita,, .
Gostei muito de sua matéria, como sempre bem escrita e bem colocada. abraços Silvia
já estive 2 vezes em inhotim, andei por lá quase o dia inteiro, e não conheço ainda o lugar todo. é maravilhoso, simplesmente deslumbrante!
ResponderExcluiro que gosto mais do lugar é o parque, é a natureza tão bem misturada e tão exuberante; a arte, sinceramente, não é a minha preferida. essa arte dita pós-moderna, ou de vanguarda, que carece de mil explicações pra ser compreendida, não me atrai. gosto daquela que me enche os olhos de beleza...
uma dica pra quer for visitar e não quiser se hospedar em brumadinho: belo horizonte é pertinho, de carro ou de ônibus. nos finais de semana tem um ônibus que vai pra lá de manhã e retorna no final da tarde.