O amigo Ronaldo Correa, Gerente do Banco do Brasil em Frankfurt, encontrou-se na Europa com outro amigo dileto, o Roberto Rodrigues, ex-Ministro da Agricultura (o melhor que já houve), ex-Presidente da Organização Mundial das Cooperativas, graduado da turma de ouro da ESALQ em Piracicaba, professor em Jaboticabal e dos principais e mais respeitados líderes do agro nacional, além de autor de livros com registros épicos e memoráveis de nossa vida no interior, cantor poliglota requestado por Presidentes da República e contador de causos imbatível. E descobriu ele, o Ronaldo, nele, o Roberto, um talento que me havia passado despercebido: o de botonista entusiasta e saudosista. Não pude deixar de mandar-lhe, ao Roberto, a crônica a respeito do nobre esporte publicada em meu blogue de Frankfurt e depois republicada em colinaspaulo.blogspot.com, sob o título Botão-arte em Frankfurt
(Colinenses no. 58) .
E eis que o Roberto (Rodrigues - foto) me devolve outra crônica, na forma de um depoimento inspirado, generoso e convincente. Acho que os leitores do blogue, sobretudo os praticantes, merecem lê-la, pelo botão florescente e também pelo que lembra de nosso futebol do passado. É uma excursão emocionada pela própria memória do esporte:
Meu caro Renato,
Deliciei-me com essa crônica (...)! Voei no tempo por uns 60 anos . Também tirei botões "bitelos" de capas de um velho tio para fazer beques, e outros mais baixinhos para formar atacantes venenosos , inclusive capazes de fazer gols de bicicleta ...Tudo lixado no chão de cimento do quintal de casa .
Mas meus times passaram a ser majoritariamente de celuloides ( "vidros" de relógios ) , e , molecão de 14/15 anos , vivia percorrendo as relojoarias campineiras atrás de jogadores com formas e tamanhos adequados para as variadas posições . E sabe mais o que ? Tenho-os todos ainda ( mais de 20 times ! ) , embora a maioria esteja rachada ou empenada , guardados religiosamente na principal gaveta do meu criado-mudo ! Veja que paixão : não houve carta de amada ou regalo de amigo que tenha substituído meus times de botão no maior cofre aberto de meu patrimônio ! Mudei muitas vezes de criado-mudo , mas a gaveta mais importante sempre foi reservada a este "relicário" .
E lá está meu velho tricolor com Poy , De Sordi , Mauro , Victor e Riberto ( com Gérsio Passadore na reserva ) ; Dino Sani e Zizinho ; Maurinho , Amauri , Gino e Canhoteiro . Este foi meu time predileto , embora existam também Bauer , Rui e Noronha , Sastre e Tesourinha (*) , entre outros heróis que glorificaram o Diamante Negro . E todos os meus botões têm nomes pregados do lado inferior , recortados de escalações de jornais . Lá estão inclusive Alfredinho , Alvaro , Del Vecchio , Vasconcelos e Tite - do Santos dos anos 50 , substituídos nos anos 60 por Dorval , Jair ( depois Mengálvio ) Pagão ( depois Coutinho e mais tarde Toninho ) e Pepe ( depois Abel e Edu ) ... Puxa , que saudades ! Tenho o Botafogo com aquela linha mágica de Garrincha , Didi , Quarentinha , Amarildo e Zagalo , com Pampolini de volante . E o Vasco com a defesa de Paulinho , Belini e Coronel ... Tem Parada do Bangu , Claúdio e Luisinho do Curintia , e um Palmeiras bem antigo , com Servílio ( ex Portuguesa ) de centroavante , e o meio de campo com Ademir da Guia e Dudu ( ex Ferroviária ) . E a Portuguesa com Odorico e Ocimar , boa dupla gaúcha de meio-campistas . E os times pequenos também , como o XV de Piracicaba , com Idiarte , Santo Cristo e Tanga , cruz credo , mais tarde com Xixico e Nilo ( ex Noroeste , como foi Toninho , do Santos e do Tricolor ) .
Caro Renato amigo , vc puxou um fio infinito com sua crônica . E lembranças escorreram , vívidas , dos escaninhos da memória . Também fui campeão inter repúblicas quando estudava em Piracicaba , levantando o título pelo Pito Aceso em feroz final contra o Benvenuto "Boca Negra" Guidoni , da Necrotério , pelo apertado placar de 2x1 . Foi tanta emoção que meu companheiro de quarto Ney Piegas "invadiu" a cancha - subiu na minha mesa de estudos - em meio às comemorações . São centenas de "causos" memoráveis , uns já fantasiados pela bruma do tempo implacável , mas todos notáveis .
Muito obrigado por este re-despertar . Outro dia presenteei meu neto mais novo , o Felipe , com dois times comprados em lojas de brinquedos . Mas eram tão iguais todos os botões que não teve graça jogar com ele . Onde a especialização por posição ? Onde o goleiro de caixa de fósforo Beija-flor , aquela quadrada e grande ? Onde a faixa de papelão que juntava as traves de fora a fora na parte inferior , de modo que só se fazia gol encobrindo esta faixa , além de superar o "baita" goleiro ? Nunca fiz um gol olímpico , embora tenha feito alguns maravilhosos . Meus jogadores mais competentes em todos estes anos eram Canhoteiro e Pelé , lá guardados ainda no criado-mudo . A bolinha dependia das regras - e sempre tinha algum "caga-regras" inefável , puxando a brasa para sua sardinha . Mas a bolinha dominante era botãozinho de camisa , embora tenha jogado com bolas redondas ( algumas feitas com papel prateado de cigarro ou de rolha aparada ) .
Bem , meu caro , vou parar por aqui , tantas são as lembranças que me ocorrem : daria um alentado capítulo de obra sobre este tema .
Forte abraço.
Deliciei-me com essa crônica (...)! Voei no tempo por uns 60 anos . Também tirei botões "bitelos" de capas de um velho tio para fazer beques, e outros mais baixinhos para formar atacantes venenosos , inclusive capazes de fazer gols de bicicleta ...Tudo lixado no chão de cimento do quintal de casa .
Mas meus times passaram a ser majoritariamente de celuloides ( "vidros" de relógios ) , e , molecão de 14/15 anos , vivia percorrendo as relojoarias campineiras atrás de jogadores com formas e tamanhos adequados para as variadas posições . E sabe mais o que ? Tenho-os todos ainda ( mais de 20 times ! ) , embora a maioria esteja rachada ou empenada , guardados religiosamente na principal gaveta do meu criado-mudo ! Veja que paixão : não houve carta de amada ou regalo de amigo que tenha substituído meus times de botão no maior cofre aberto de meu patrimônio ! Mudei muitas vezes de criado-mudo , mas a gaveta mais importante sempre foi reservada a este "relicário" .
E lá está meu velho tricolor com Poy , De Sordi , Mauro , Victor e Riberto ( com Gérsio Passadore na reserva ) ; Dino Sani e Zizinho ; Maurinho , Amauri , Gino e Canhoteiro . Este foi meu time predileto , embora existam também Bauer , Rui e Noronha , Sastre e Tesourinha (*) , entre outros heróis que glorificaram o Diamante Negro . E todos os meus botões têm nomes pregados do lado inferior , recortados de escalações de jornais . Lá estão inclusive Alfredinho , Alvaro , Del Vecchio , Vasconcelos e Tite - do Santos dos anos 50 , substituídos nos anos 60 por Dorval , Jair ( depois Mengálvio ) Pagão ( depois Coutinho e mais tarde Toninho ) e Pepe ( depois Abel e Edu ) ... Puxa , que saudades ! Tenho o Botafogo com aquela linha mágica de Garrincha , Didi , Quarentinha , Amarildo e Zagalo , com Pampolini de volante . E o Vasco com a defesa de Paulinho , Belini e Coronel ... Tem Parada do Bangu , Claúdio e Luisinho do Curintia , e um Palmeiras bem antigo , com Servílio ( ex Portuguesa ) de centroavante , e o meio de campo com Ademir da Guia e Dudu ( ex Ferroviária ) . E a Portuguesa com Odorico e Ocimar , boa dupla gaúcha de meio-campistas . E os times pequenos também , como o XV de Piracicaba , com Idiarte , Santo Cristo e Tanga , cruz credo , mais tarde com Xixico e Nilo ( ex Noroeste , como foi Toninho , do Santos e do Tricolor ) .
Caro Renato amigo , vc puxou um fio infinito com sua crônica . E lembranças escorreram , vívidas , dos escaninhos da memória . Também fui campeão inter repúblicas quando estudava em Piracicaba , levantando o título pelo Pito Aceso em feroz final contra o Benvenuto "Boca Negra" Guidoni , da Necrotério , pelo apertado placar de 2x1 . Foi tanta emoção que meu companheiro de quarto Ney Piegas "invadiu" a cancha - subiu na minha mesa de estudos - em meio às comemorações . São centenas de "causos" memoráveis , uns já fantasiados pela bruma do tempo implacável , mas todos notáveis .
Muito obrigado por este re-despertar . Outro dia presenteei meu neto mais novo , o Felipe , com dois times comprados em lojas de brinquedos . Mas eram tão iguais todos os botões que não teve graça jogar com ele . Onde a especialização por posição ? Onde o goleiro de caixa de fósforo Beija-flor , aquela quadrada e grande ? Onde a faixa de papelão que juntava as traves de fora a fora na parte inferior , de modo que só se fazia gol encobrindo esta faixa , além de superar o "baita" goleiro ? Nunca fiz um gol olímpico , embora tenha feito alguns maravilhosos . Meus jogadores mais competentes em todos estes anos eram Canhoteiro e Pelé , lá guardados ainda no criado-mudo . A bolinha dependia das regras - e sempre tinha algum "caga-regras" inefável , puxando a brasa para sua sardinha . Mas a bolinha dominante era botãozinho de camisa , embora tenha jogado com bolas redondas ( algumas feitas com papel prateado de cigarro ou de rolha aparada ) .
Bem , meu caro , vou parar por aqui , tantas são as lembranças que me ocorrem : daria um alentado capítulo de obra sobre este tema .
Forte abraço.
(*) O Ivan Aidar, agrônomo-fazendeiro em Severínia, na fronteira de Colina, e sampaulino atávico (o tio, Henri, foi dos mais lembrados Presidentes do "mais querido"), também da turma de ouro da ESALQ, corrigiu: não é Tesourinha, é Teixeirinha. O autor (Roberto Rodrigues) agradece o ajuste na linha, que só acrescenta a sua eficiência ofensiva.
Renato Prado Guimarães nasceu em Colina, Estado de São Paulo.
Começou a carreira profissional como jornalista, nas “Folhas” e no “O Estado de S. Paulo”; paralelamente, formou-se na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco.Diplomata desde 1963, foi Secretário de Embaixada em Bruxelas e Bogotá, Chefe do Escritório Comercial do Brasil nos EUA, Cônsul Geral ad interim em Nova York, Ministro-Conselheiro na Embaixada em Washington e Encarregado de Negócios junto aos EUA, ad ínterim.Promovido a
Embaixador em 1987, exerceu aquela função na Venezuela, no Uruguai e na Austrália (cumulativamente, também na Nova Zelândia e em Papua-Nova Guiné). Foi igualmente Cônsul-Geral do Brasil em Frankfurt, na Alemanha, e em Tóquio, no Japão.
No Brasil, foi Chefe da Divisão de Programas de Promoção Comercial, porta-voz do Itamaraty na gestão Olavo Setúbal e Chefe do Gabinete do Ministro Abreu Sodré; fora de Brasília, foi Chefe do Escritório do Ministério das Relações Exteriores em São Paulo – ERESP, que instalou.Aposentou-se em abril de 2.008. Reside atualmente em Colina, sua terra natal, interior de São Paulo, Brasil.
É o autor de “Crônicas do Inesperado”, lançado em outubro de 2.009.
Começou a carreira profissional como jornalista, nas “Folhas” e no “O Estado de S. Paulo”; paralelamente, formou-se na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco.Diplomata desde 1963, foi Secretário de Embaixada em Bruxelas e Bogotá, Chefe do Escritório Comercial do Brasil nos EUA, Cônsul Geral ad interim em Nova York, Ministro-Conselheiro na Embaixada em Washington e Encarregado de Negócios junto aos EUA, ad ínterim.Promovido a
Embaixador em 1987, exerceu aquela função na Venezuela, no Uruguai e na Austrália (cumulativamente, também na Nova Zelândia e em Papua-Nova Guiné). Foi igualmente Cônsul-Geral do Brasil em Frankfurt, na Alemanha, e em Tóquio, no Japão.
No Brasil, foi Chefe da Divisão de Programas de Promoção Comercial, porta-voz do Itamaraty na gestão Olavo Setúbal e Chefe do Gabinete do Ministro Abreu Sodré; fora de Brasília, foi Chefe do Escritório do Ministério das Relações Exteriores em São Paulo – ERESP, que instalou.Aposentou-se em abril de 2.008. Reside atualmente em Colina, sua terra natal, interior de São Paulo, Brasil.
É o autor de “Crônicas do Inesperado”, lançado em outubro de 2.009.
Para contatos, usar o endereço de e-mail rpguimar@gmail.com
Aberto às suas opiniões, sugestões, etc...
para saber mais sobre o autor, por favor, acesse os links:
http://colinaspaulo.blogspot.com.br/2012/04/renato-prato-guimaraes-autor-colinense.html
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