sexta-feira, 20 de maio de 2011

Colinenses nº 56 - Retrógrado ou visionário? - (revisada) crônica do Emb Renato Prado Guimarães


Retrógrado ou visionário?

          Olhem só o que apareceu no Facebook:
          
        este embaixador que escreve, ele nem
          aparece pra ver os comentarios e 
          agradecer o que escrevemos 
          dele..nunca vi um escritor assim...
          ele é bom, so falta ser mais legal
          dá um toque pro homen
          fala pra ele ser mais dado com o 
          publico dele
          falta um pouco de humildade
          eu gosto das coisas que ele escreve
          soto falando que eu agradeço qdo me
          elogiam
          que gostam do que escrevo
          (...)
          não falei mal doque ele escreve, as
          crônicas são perfeitas
          liqse todas, adoro
          por isso que penso
          ohomen não pode ser chato
          (...)
          eu nem tenho ele no meu face
          e nem o conheço

          Puxão de orelha danado.

          Só que na orelha errada.

          Eu nunca deixo nada sem resposta, nem deixo de agradecer, ou retorquir, o que me toca.

         À condição de que saiba a respeito da mensagem, e tenha o endereço de volta, claro.

         Se reprimenda mereço, é por não ter ideia de como operar nessa caixa preta, ilegível e intransitável, que é o tal de Facebook, no qual me aventurei há nem dez dias. Não deu espaço nem tempo pra aprender nada, só isso aí: que é uma caixa preta, para mim impraticável.

         Caixa preta de surpresas descoloridas.

         Alguém pode me ensinar como se faz pra sair, no escuro?

         Muito obrigado a quem escreveu o transcrito aí em cima, pelo que diz de bom, generoso e imerecido, a propósito destes rabiscos sem pretensão. E também por haver demonstrado, cabalmente, que não deveria ter-me atrevido em terreno tão ignoto e ínvio para minha avançada idade biológica – e serôdia, retardadíssima, idade tecnológica.

          Se alguém quiser comunicar-se comigo, escreva a rpguimar@gmail.com que será muito bem-vindo. E terá resposta. O e-mail é o ponto mais alto que logrei atingir da galopante TI digital.

          Ademais, eu sou do tempo em que a comunicação epistolar era bilateral, carta para mais de um já era fofoca, intriga ou conspiração; em qualquer caso, indiscrição. Não é como agora, quando muito se escreve é para a plateia, o interlocutor ocasional parece só pretexto na mega-vulgarização epistolar que é a plataforma das redes sociais, a meu juízo oportunista e mercenária – além de promíscua. Minha filha mais velha, assídua nas novidades da Net, mas nem por isso menos inteligente e sensível, chega a dizer que o FB é o espelho das vaidades de uma geração narcísica. E há muita gente dizendo, com autoridade e propriedade – além de bom senso –, que o FB está provocando uma virada cultural no gênero humano, para baixo e para pior – muito pior.(Só um exemplo: VEJA publicou, em seu número 2306, de 30/01/2013, artigo sob o título “A Rede da Inveja”, que anuncia “uma surpresa revelada por pesquisas científicas: para muita gente, o Facebook é uma fonte permanente de frustração e angústia”). 

         Retrógrado, eu? Quem sabe. Afinal, o retrógrado de hoje pode ser o visionário do amanhã.

         Pois é, de brio machucado por minha confessa e pública inadaptação ao FB, ainda vou reproduzir nestas Colinenses um texto que saiu em minhas “Crônicas do Inesperado”, e que mostra como este retrógrado/ex-visionário estava no time que concebeu e criou, nos anos 1980. a primeira Intranet brasileira, com núcleo de gestão em Brasília e Nova York, bem como terminais permanentes em quase uma centena de cidades em todo o mundo.

          E isso antes mesmo da Internet existir!

          Sou um precursor da Internet!
          Vim antes do Steve Jobs e do Bill Gates! Sem contar esse dispensável Mark Zuckerberg... Diferença está em que eles são ricos, eu sou pobre.

          Sem falar que, à mesma época, quando não tinha Windows, nem Office, nem Word, nem mesmo o prestativo mouse, fui eu quem deu início, na Embaixada em Washington, à alfabetização em português do XyWrite, dos primeiros, mais eficientes e sucintos editores de textos a existir, ainda em plataforma DOS (alguém se lembra?). O Xy aprendeu direitinho, e no momento certo de nosso teclado, a usar o c cedilha, as crases, o agudo, o til, o circunflexo, com o que se tornou pela primeira vez possível o uso da computação para textos oficiais em nosso idioma, àquela altura (e ainda hoje!) tão olvidado, desmerecido, nas inovações informáticas – a última flor do Lácio a um tempo esplendor e sepultura também nos dígitos da TI... (Pois não é que a Apple ainda não tem teclado brasileiro em seus laptops, nem para o iMac, mesmo quando vende no Brasil!)

          O Facebook? Deve ter atrativos extraordinários para quem consegue dominar seus mecanismos e se ajuste a seu ambiente de intimidades artificiais e de despojamento desvairado da privacidade individual.

           Que os compatriotas colinenses, fãs do lado lúdico do Facebook, e fascinados por sua capacidade de multiplicar contatos e relações, me entendam e respeitem, portanto, em minha imperiosa renúncia ao engenho mirífico. Não posso correr o risco de deixar de responder a mensagens, de corresponder a amizades sinceras, e gratas, simplesmente por não enxergar dentro da caixa preta. Nem posso conviver com meu constrangimento perene ante esse desnudamento forçado da identidade individual, que o FB promove e explora. Aguentei duas semanas angustiosas, seu partícipe relutante, mas...

         Sou de outros tempos.

         De tempos do passado, sim, mas talvez também do futuro...

         Retrógrado ou visionário, eu?


 SOBRE O AUTOR:

Renato Prado Guimarães nasceu em Colina, Estado de São Paulo.
Começou a carreira profissional como jornalista, nas “Folhas” e no “O Estado de S. Paulo”; paralelamente, formou-se na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco.Diplomata desde 1963, foi Secretário de Embaixada em Bruxelas e Bogotá, Chefe do Escritório Comercial do Brasil nos EUA, Cônsul Geral ad interim em Nova York, Ministro-Conselheiro na Embaixada em Washington e Encarregado de Negócios junto aos EUA, ad ínterim.Promovido a
Embaixador em 1987, exerceu aquela função na Venezuela, no Uruguai e na Austrália (cumulativamente, também na Nova Zelândia e em Papua-Nova Guiné). Foi igualmente Cônsul-Geral do Brasil em Frankfurt, na Alemanha, e em Tóquio, no Japão.
No Brasil, foi Chefe da Divisão de Programas de Promoção Comercial, porta-voz do Itamaraty na gestão Olavo Setúbal e Chefe do Gabinete do Ministro Abreu Sodré; fora de Brasília, foi Chefe do Escritório do Ministério das Relações Exteriores em São Paulo – ERESP, que instalou.Aposentou-se em abril de 2.008. Reside atualmente em Colina, sua terra natal, interior de São Paulo, Brasil.


É o autor de “Crônicas do Inesperado”, lançado em outubro de 2.009

Para contatos, usar o endereço de e-mail rpguimar@gmail.comAberto às suas opiniões, sugestões, etc...

para saber mais sobre o autor, por favor, acesse os links:
http://colinaspaulo.blogspot.com.br/2012/04/renato-prato-guimaraes-autor-colinense.html

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