Bachianas colinenses
Já sei que vão começar a implicar com o plural de minhas crônicas. Por que Colinenses no. 1, Colinenses no. 2,Colinenses no. 3, e não Colinense no. 1, Colinense no. 2, Colinense no. 3?
As duas formas são cabíveis, mas eu acho que o plural soa melhor. E escolhi assim, ora; direito do autor.
De resto, estou em boa companhia. As Bachianas do Heitor Villa-Lobos são plurais, mesmo quando individuais: Bachianas no. 1, Bachianas no. 2, Bachianas no. 3.
Capricho do gênio que não me incomoda repetir. Até porque é capricho ainda sensato do compositor irreverente. Eu jamais ousaria dar aquela resposta contundente, na rádio nacional francesa, ao entrevistador inábil que lhe perguntava como ele podia estar seguro da autenticidade das melodias indígenas que recolhera nas tabas amazônicas: “Como? Ora, eu ouvia o papagaio assoviar e anotava. Essas tribos são uma bagunça, ninguém se lembra de nada, passada uma geração. Mas o papagaio vive muito e tem uma memória apurada e honesta. Eu chegava e ia logo pedindo: traz o papagaio!”
Foi o Marcelo Bratke, grande pianista brasileiro, quem me contou essa estória, segundo ele absolutamente verdadeira. A julgar por outras do grande Villa, certamente é.
As Bachianas ganharam pódio nas Olímpíadas, e com ele, prestígio renovado. Explico: a música que a Marisa Monte cantava, ao começar a apresentação brasileira na festa de encerramento, no topo de alguma coisa espumosa e borbulhante (que não consegui identificar), era a famosa Ária (Cantilena) da Bachianas no. 5 – obra-maestra que toda boa soprano trata de cantar e gravar alguma vez na vida (conheci um diplomata venezuelano, que chegou a Ministro de Estado, que colecionava interpretações gravadas da peça; na última vez em que o vi, já tinha 25!). A Ária também encerra uma travessura do Villa: todo mundo quer saber seu significado, que língua é (indígena?), e um dia ele revelou, traquinas: é só uma sucessão de notas e sons, sem sentido algum – a não ser musical, mas nisso, digo eu, excelso.
Se o blogue tivesse som, até que punha para vocês ouvirem a versão da Leila Guimarães, acompanhada ao piano pelo João Carlos de Assis Brasil – a qual estou eu próprio ouvindo, com deleite, enquanto redijo esta nota.
Renato Prado Guimarães nasceu em Colina, Estado de São Paulo.
Começou a carreira profissional como jornalista, nas “Folhas” e no “O Estado de S. Paulo”; paralelamente, formou-se na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco.Diplomata desde 1963, foi Secretário de Embaixada em Bruxelas e Bogotá, Chefe do Escritório Comercial do Brasil nos EUA, Cônsul Geral ad interim em Nova York, Ministro-Conselheiro na Embaixada em Washington e Encarregado de Negócios junto aos EUA, ad ínterim.Promovido a
Embaixador em 1987, exerceu aquela função na Venezuela, no Uruguai e na Austrália (cumulativamente, também na Nova Zelândia e em Papua-Nova Guiné). Foi igualmente Cônsul-Geral do Brasil em Frankfurt, na Alemanha, e em Tóquio, no Japão.
No Brasil, foi Chefe da Divisão de Programas de Promoção Comercial, porta-voz do Itamaraty na gestão Olavo Setúbal e Chefe do Gabinete do Ministro Abreu Sodré; fora de Brasília, foi Chefe do Escritório do Ministério das Relações Exteriores em São Paulo – ERESP, que instalou.Aposentou-se em abril de 2.008. Reside atualmente em Colina, sua terra natal, interior de São Paulo, Brasil.
É o autor de “Crônicas do Inesperado”, lançado em outubro de 2.009.
Para contatos, usar o endereço de e-mail rpguimar@gmail.com
Aberto às suas opiniões, sugestões, etc...
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