do blog:
As terras que hoje pertencem a Barretos foram apossadas a partir das primeiras décadas do século XIX, com o deslocamento, a partir de Minas Gerais, dos descendentes dos bandeirantes que, dois séculos antes, haviam partido de São Paulo de Piratininga em busca das minas de Ouro Preto, São João Del Rey, Mariana e outros núcleos urbanos por eles criados. Tal ocupação teria relação direta com a conquista de territórios hoje formadores dos municípios de Franca, Batatais e Morro Agudo que, por sua vez, tiveram sua ocupação ligada ao Caminho ou Estrada de Goiás. Os pioneiros desbravadores assentaram-se na região atravessando o Rio Pardo a partir da Fazenda Santo Inácio, cuja posse se estendia desde o Morro do Chapéu, atual Morro Agudo, até a barranca do rio. Como capatazes dos colonizadores, vindos também de Minas, tomaram posse das terras à margem esquerda do ribeirão Pitangueiras, Francisco José Barreto e seu irmão e denominaram essa gleba de “Fortaleza”.
A fundação de Barretos se deveu a Francisco José Barreto, Chico Barreto, que morreu em 1848 e era casado com Ana Rosa. Era picadista e capataz do alferes João José de Carvalho e do tenente Francisco Antônio Diniz Junqueira. Ele recebeu de João José de Carvalho uma gleba de terras caracterizada por cerradões e matas, localizadas acima da cabeceira do ribeirão Pitangueiras (que corta Barretos). A partir da propriedade cedida por João José de Carvalho e estabelecida por Francisco Barreto é que seria erigido o arraial dos Barretos, fato que aponta a ausência da ação pública e o predomínio da esfera privada nessa região. Desta ocorrência se efetivariam, portanto, relações sociais de compadrio, germe do que viria a ser, com o advento da República, o que se denominou parentela, numa abordagem sociológica do coronelismo. Após o estabelecimento de Francisco José Barreto e sua família ocorreu um afluxo de outros entrantes, originários, principalmente, de localidades pertencentes à Comarca do Rio das Mortes. Após a morte de Francisco José Barreto, em 1848, seus filhos, auxiliados por um vizinho, Simão Antônio Marques, construíram uma capela sob a invocação do Divino Espírito Santo, em torno da qual foram se fixando novos moradores. Em 1874, com a criação da Paróquia do Divino Espírito, no Arraial “dos Barretos”, foi também instituída a Freguesia. Espírito Santo de Barretos passou a Município em março de 1885, alterando seu nome para Barretos em 06 de novembro de 1906. Durante sua evolução histórica, o grande território foi sofrendo inúmeros desmembramentos, quando seis Distritos sob sua jurisdição foram elevados a Município. Em 10 de março de 1885 foi criado o município de Barretos, cujo perímetro circundava os terrenos que constituíam os municípios de Barretos, Olímpia, Colina, Cajobi e parte do de Monte Azul Paulista, numa extensão aproximada de 14.000 quilômetros quadrados. Pela Lei n.° 2906, de 29 de 1925, Colina foi desmembrada de Barretos, passando a município.
Localizada na região Norte do Estado de São Paulo, a 420 km da Capital, o Município de Barretos foi um dos primeiros a ser fundado na porção do território paulista delimitada pelos rios Pardo, Turvo e Grande. Os Marques e os Barreto se estabeleceram em dois assentamentos, dando início a um primeiro núcleo que passou a servir de pouso e referência de uma vasta região. A Fazenda dos Barreto teve suas primeiras construções situadas onde hoje se encontra o Hospital Psiquiátrico Mariano Dias. A fazenda dos Marques desenvolveu-se a partir do atual Largo do Rosário. Em 1845 as duas famílias pioneiras resolveram delimitar uma gleba de 82 alqueires, que passou a denominar-se "Patrimônio do Divino Espírito Santo". No mesmo ano foi construída a primeira capela e a paróquia providenciou, então, a primeira "planta da cidade", que nascia organizada em quadras e datas abrangendo os 82 alqueires do patrimônio.
Um acidente natural de grandes proporções, "o fogo de 70", alterou fundamentalmente as condições de ocupação da Região. Rigoroso, o inverno de 1870 provocou uma forte geada que deixou ressequida a vegetação. Ocorreu então um grande incêndio que calcinou a floresta. A chegada da primavera e das chuvas fez surgir uma imensa pastagem natural que, devido a qualidade das terras, estabeleceu condições excepcionais para a engorda de gado. O grande incêndio facilitou a penetração nos campos e a formação de novas fazendas, atraindo novos colonizadores para uma extensa região da qual Barretos tornou-se principal centro comercial.
Cobertura Original da Mata Atlântica: 30% Remanescentes: 9%
Mata: 4106.20 ha Mangue: 0.00 ha Restinga: 0.00 ha
O avanço do café pelas regiões Mogiana e Araraquarense, no início do século XX, atingiu a região, principalmente as áreas hoje ocupadas pelas cidades de Olímpia e Colina. Como já se expressaram alguns historiadores, o café teve fome de terra e gente. O problema da mão de obra é solucionado no final do XIX com a imigração que remodelou a fisionomia étnica e cultural da região no XX. E o problema da terra é solucionado com a invasão e desmatamento das áreas de solos férteis do centro e oeste paulistas.
Elevado à categoria de vila com a denominação de Espírito Santo de Barretos, pela lei provincial nº 22, de 10-03-1885, desmembrado de Jaboticabal. Sede na vila de Espírito Santo de Barretos. Constituído do distrito sede. Instalado em 31-01-1890. http://www.nossosaopaulo.com.br/Reg_07/Reg07_Barretos.htm
Nota: as histórias dos Junqueiras e a dos fundadores de Barretos se juntam...
CRÔNICA: CHICO E ANTONIO
O sol estava querendo sumir, quando os dois irmãos mineiros passaram pela porteira. No lombo do pagão, Chico tinha cruzado a vila e estava de volta, com a resolução tomada e uma palavra determinada.
- Olha lá, Tonho, não me vás sair um perrengue!
- Vossemecê há de contar comigo, Chico, com o favor de Deus – retrucou o mais novo.
- Vamos partir e deixar tudo aqui para o Carolino – acrescentou.
Chico pulou da sela e amarrou no moirão o ruço pedrês. Sentiu no ar o cheiro do guandu que Ana Rosa cozinhava no fundo da tapera. Na varanda da frente, a família reunida aguardava para ouvir a decisão da viagem anunciada. Francisco Barreto e Antônio foram entrando e avistaram Ana Rosa ao lado do fogão de lenha. A mulher percebeu pelo jeito do marido que a jornada estava traçada..
- Arre! Acertei o dia de preparar seu prato preferido - comemorou, tratando de separar também a farinha para acompanhamento.
O arraial de Paragens dos Bugres teve origem com as entradas e bandeiras que desbravaram o sertão em busca de riquezas. A região de Caldas prosperou, apesar dos conflitos e da decadência da mineração, em razão da proteção de Nossa Senhora do Patrocínio. A família Barreto agora desafiava a atividade pastoril. Chico não era homem de ficar parado, de barriga para o ar, como qualquer tiú ao sol. O sertanejo sabia que era preciso animar a família na véspera daquela jornada tão difícil, de mais de 50 léguas, entre matas, rios, selvagens e feras.
Ana Rosa preparava a janta para mostrar o orgulho do marido, venerável epônimo. Mulher experiente, conhecedora das artes da natureza e do tempo, percebeu que a tempestade seria companheira da última noite na morada e tratou de preparar também o café forte.
Os tropeiros formavam roda, agachados, aguardando a conclusão dos serviços culinários, sabendo que não era momento de turrar com a dona da casa, especialmente no instante melindroso do tempero final. Com os pratos em cima dos joelhos, todos comeram valentemente. A camaradagem, reconfortada com o jantar abundante, ajudava a rir e falar, bulindo de vez em quando no guampo de cachaça. A conversa tomou a direção da viagem.
- Então? perguntou João Rodrigues Ferreira – casado com Tereza Rosa de Jesus – ao seu cunhado malungo.
- Uai, não tenho medo de nada, nada... - gracejou Francisco Isaías da Silveira, o marido de Maria Rosa.
- Nem do ururau? – provocou.
O arrieiro rugiu:
- Eu mato, eu mato, mato!
- Tá bom, tá bom! Não quero conversa de valentia. Você tem é que cuidar de chegar os burros às estancas e de suspender as cangalhas.
Ana Rosa estava muito atenta as cenas e detalhes. Tinha ouvido falar de Mato Grosso de Batatais e do Arraial Bonito do Capim Mimoso (Franca), onde seus parentes moravam há muito tempo. Porem decidiu permanecer calada, apenas olhando a figura admirável do marido.
Chico deu um muxoxo. Em seguida, levantou de um surrão, onde estivera assentado durante a conversa dos genros, foi até a janela e fez mira até a estrela em divina faceirice.
Veio a chuva. Temporal forte no sertão mineiro. Ana Rosa não conseguiu dormir.
O dia estava nasce-não-nasce e já os tropeiros tinham pegado na lida. Em vaivém, empilhavam as cargas, resfolegando ao peso. Confirmando o costume, proferiram jura, exclamação, dando palmada forte na anca de algum bicho teimoso. O carijó estranhou o movimento quando cantou pela primeira vez.
A longa caravana, a passos mansos, pôs-se a caminho, enfrentando a soalheira, o pó que lhe fustigava as ventas, o frio, o cansaço, e à noite, acampada nas bordas das matas, o impressionante miado das pintadas e o uivo medonho dos lobos sanguinários. Em cada parada, o arrieiro percorria a tropa, correndo o lombo dos animais para examinar as pisaduras.
- Tem rastro de antas-sapateiras. Quando estão no cio, faz medo o barulho – disse João Francisco.
- Sei, filho, mas ao darem com o fogo, disparam, galopando pelo capão a dentro – sentenciou Chico.
- Escuta o barulho – insistiu.
- Calma menino! Não vê que é coruja, que está piando? Homem não tem medo!
Chico estava preocupado. Não queria provocar a curiosidade dos companheiros viajantes. Porém tinha conversado com Ana Rosa sobre a necessidade do encontro com seu irmão (dela), o alferes João José de Carvalho. O tropeiro sabia que era dentro das fazendas que se realizava a maior parte da vida dos moradores do Sertão do Rio Pardo. Uma vida dura, rústica e até primitiva. Por volta de 1798, aquela banda tinha 549 pessoas. Em 1824, eram 5.827 habitantes. Corria o ano de 1831 e mais pessoas estavam aportando nas terras.
- Não dá para seguir adiante sem falar com seu irmão – disse Chico à esposa.
João José de Carvalho nasceu em 1784 em Minas Gerais, em Carmo da Cachoeira. Era filho de José João Dias e Mariana Alves Pedrosa e casado com Helena Diniz Junqueira. O alferes era 10 anos mais velho que Chico e 12 mais que Ana Rosa. Antes da proclamação da independência, estava em Batatais com a família, possuidor de grandes extensões de terras de campos e culturas na fazenda denominada Santo Inácio. No censo de 1822, João José de Carvalho declarou ter 34 escravos, sendo 24 do sexo masculino.
- “Nem daqui 100 anos vai ser possível cultivar toda esta área”, disse João José de Carvalho durante o encontro com o cunhado. E concordou que a terra após o Pardo, onde correm as águas do córrego Pitangueiras, pudesse ser trabalhada pela família Barreto.
João José de Carvalho tinha apossado a vasta gleba das Palmeiras, na margem esquerda do Pardo, com 51.979 alqueires. Era justo que alguém da família pudesse tocar o outro lado.
Na manhã seguinte, os viandantes seguiram avante até vencer o Morro do Chapéu. O Rio Pardo estava próximo e a última etapa da travessia definida. Ana Rosa reuniu as mulheres para recomendar ânimo e paciência. A aventura agora estava chegando ao fim. João José tinha cedido a terra para cultivo de algodão, milho e criação de gado. Era possível voltar a fazer queijo e trabalhar a terra.
Mas a noite foi de temporal. O cheiro renovado matinal encheu de coragem a caravana. Utilizando o mesmo expediente dos velhos bandeirantes, a mais longa das travessias foi feita com pleno sucesso. O Sertão do Rio Pardo – antes habitado pelas feras e batida pelos pés ligeiros dos Caiapós – se abriu definitivamente para a família Barreto. A 100 metros de uma velha paineira branca, Chico apontou o local desejado:
- Hum hum, está ali. Eia, eia, eia!
No terreno escolhido, debaixo de um enorme abacateiro, Ana Rosa fez uma oração de agradecimento, invocando a Santíssima Trindade, acompanhada de todas as outras mulheres, filhas e noras. Desta oração veio o nome de Fortaleza. As vozes foram subindo, plangentes, numa prece cercada de emoção.
Os primeiros tempos foram de muito trabalho. Chico construiu sua casa com esteios de aroeira, coberta de capim e voltada para o poente. Tinha um terraço e um vasto horizonte. Certo dia, Antônio foi conversar com Chico, dizendo da vontade de continuar avançando mais um pouco, até chegar ao córrego da Posse Seca. Acertou a toada, a partilha e levou a família.
Chico e Ana Rosa viveram em Fortaleza de 1831 a 1848. O casal teve 8 filhos: Maria Rosa de Jesus, Tereza Rosa de Jesus, José Francisco Barreto, João Francisco Barreto, Francisca Ana Rosa, Beralda Veríssima da Conceição, Antônia Maria de Jesus e Rita Rosa de Jesus, a Rita Parnaíba.
Chico Barreto morreu em 1848. Ana Rosa faleceu em 1852.
Em agosto de 1854, a família Barreto e Librina – já unidas inclusive por laços de casamento - estava toda reunida para cumprir a promessa feita a Chico e Ana Rosa. Era chegado o tempo de doar as terras ao patrimônio do Divino Espírito Santo. O documento foi assinado em 25 de agosto de 1854.
Recebemos, em 30/agosto/2011 o seguinte e-mail esclarecendo o parentesco citado na crônica acima:
Wilson Alves Garcia wilsonalvesgarcia@yahoo.com.br
- Vossemecê há de contar comigo, Chico, com o favor de Deus – retrucou o mais novo.
- Vamos partir e deixar tudo aqui para o Carolino – acrescentou.
Chico pulou da sela e amarrou no moirão o ruço pedrês. Sentiu no ar o cheiro do guandu que Ana Rosa cozinhava no fundo da tapera. Na varanda da frente, a família reunida aguardava para ouvir a decisão da viagem anunciada. Francisco Barreto e Antônio foram entrando e avistaram Ana Rosa ao lado do fogão de lenha. A mulher percebeu pelo jeito do marido que a jornada estava traçada..
- Arre! Acertei o dia de preparar seu prato preferido - comemorou, tratando de separar também a farinha para acompanhamento.
O arraial de Paragens dos Bugres teve origem com as entradas e bandeiras que desbravaram o sertão em busca de riquezas. A região de Caldas prosperou, apesar dos conflitos e da decadência da mineração, em razão da proteção de Nossa Senhora do Patrocínio. A família Barreto agora desafiava a atividade pastoril. Chico não era homem de ficar parado, de barriga para o ar, como qualquer tiú ao sol. O sertanejo sabia que era preciso animar a família na véspera daquela jornada tão difícil, de mais de 50 léguas, entre matas, rios, selvagens e feras.
Ana Rosa preparava a janta para mostrar o orgulho do marido, venerável epônimo. Mulher experiente, conhecedora das artes da natureza e do tempo, percebeu que a tempestade seria companheira da última noite na morada e tratou de preparar também o café forte.
Os tropeiros formavam roda, agachados, aguardando a conclusão dos serviços culinários, sabendo que não era momento de turrar com a dona da casa, especialmente no instante melindroso do tempero final. Com os pratos em cima dos joelhos, todos comeram valentemente. A camaradagem, reconfortada com o jantar abundante, ajudava a rir e falar, bulindo de vez em quando no guampo de cachaça. A conversa tomou a direção da viagem.
- Então? perguntou João Rodrigues Ferreira – casado com Tereza Rosa de Jesus – ao seu cunhado malungo.
- Uai, não tenho medo de nada, nada... - gracejou Francisco Isaías da Silveira, o marido de Maria Rosa.
- Nem do ururau? – provocou.
O arrieiro rugiu:
- Eu mato, eu mato, mato!
- Tá bom, tá bom! Não quero conversa de valentia. Você tem é que cuidar de chegar os burros às estancas e de suspender as cangalhas.
Ana Rosa estava muito atenta as cenas e detalhes. Tinha ouvido falar de Mato Grosso de Batatais e do Arraial Bonito do Capim Mimoso (Franca), onde seus parentes moravam há muito tempo. Porem decidiu permanecer calada, apenas olhando a figura admirável do marido.
Chico deu um muxoxo. Em seguida, levantou de um surrão, onde estivera assentado durante a conversa dos genros, foi até a janela e fez mira até a estrela em divina faceirice.
Veio a chuva. Temporal forte no sertão mineiro. Ana Rosa não conseguiu dormir.
O dia estava nasce-não-nasce e já os tropeiros tinham pegado na lida. Em vaivém, empilhavam as cargas, resfolegando ao peso. Confirmando o costume, proferiram jura, exclamação, dando palmada forte na anca de algum bicho teimoso. O carijó estranhou o movimento quando cantou pela primeira vez.
A longa caravana, a passos mansos, pôs-se a caminho, enfrentando a soalheira, o pó que lhe fustigava as ventas, o frio, o cansaço, e à noite, acampada nas bordas das matas, o impressionante miado das pintadas e o uivo medonho dos lobos sanguinários. Em cada parada, o arrieiro percorria a tropa, correndo o lombo dos animais para examinar as pisaduras.
- Tem rastro de antas-sapateiras. Quando estão no cio, faz medo o barulho – disse João Francisco.
- Sei, filho, mas ao darem com o fogo, disparam, galopando pelo capão a dentro – sentenciou Chico.
- Escuta o barulho – insistiu.
- Calma menino! Não vê que é coruja, que está piando? Homem não tem medo!
Chico estava preocupado. Não queria provocar a curiosidade dos companheiros viajantes. Porém tinha conversado com Ana Rosa sobre a necessidade do encontro com seu irmão (dela), o alferes João José de Carvalho. O tropeiro sabia que era dentro das fazendas que se realizava a maior parte da vida dos moradores do Sertão do Rio Pardo. Uma vida dura, rústica e até primitiva. Por volta de 1798, aquela banda tinha 549 pessoas. Em 1824, eram 5.827 habitantes. Corria o ano de 1831 e mais pessoas estavam aportando nas terras.
- Não dá para seguir adiante sem falar com seu irmão – disse Chico à esposa.
João José de Carvalho nasceu em 1784 em Minas Gerais, em Carmo da Cachoeira. Era filho de José João Dias e Mariana Alves Pedrosa e casado com Helena Diniz Junqueira. O alferes era 10 anos mais velho que Chico e 12 mais que Ana Rosa. Antes da proclamação da independência, estava em Batatais com a família, possuidor de grandes extensões de terras de campos e culturas na fazenda denominada Santo Inácio. No censo de 1822, João José de Carvalho declarou ter 34 escravos, sendo 24 do sexo masculino.
- “Nem daqui 100 anos vai ser possível cultivar toda esta área”, disse João José de Carvalho durante o encontro com o cunhado. E concordou que a terra após o Pardo, onde correm as águas do córrego Pitangueiras, pudesse ser trabalhada pela família Barreto.
João José de Carvalho tinha apossado a vasta gleba das Palmeiras, na margem esquerda do Pardo, com 51.979 alqueires. Era justo que alguém da família pudesse tocar o outro lado.
Na manhã seguinte, os viandantes seguiram avante até vencer o Morro do Chapéu. O Rio Pardo estava próximo e a última etapa da travessia definida. Ana Rosa reuniu as mulheres para recomendar ânimo e paciência. A aventura agora estava chegando ao fim. João José tinha cedido a terra para cultivo de algodão, milho e criação de gado. Era possível voltar a fazer queijo e trabalhar a terra.
Mas a noite foi de temporal. O cheiro renovado matinal encheu de coragem a caravana. Utilizando o mesmo expediente dos velhos bandeirantes, a mais longa das travessias foi feita com pleno sucesso. O Sertão do Rio Pardo – antes habitado pelas feras e batida pelos pés ligeiros dos Caiapós – se abriu definitivamente para a família Barreto. A 100 metros de uma velha paineira branca, Chico apontou o local desejado:
- Hum hum, está ali. Eia, eia, eia!
No terreno escolhido, debaixo de um enorme abacateiro, Ana Rosa fez uma oração de agradecimento, invocando a Santíssima Trindade, acompanhada de todas as outras mulheres, filhas e noras. Desta oração veio o nome de Fortaleza. As vozes foram subindo, plangentes, numa prece cercada de emoção.
Os primeiros tempos foram de muito trabalho. Chico construiu sua casa com esteios de aroeira, coberta de capim e voltada para o poente. Tinha um terraço e um vasto horizonte. Certo dia, Antônio foi conversar com Chico, dizendo da vontade de continuar avançando mais um pouco, até chegar ao córrego da Posse Seca. Acertou a toada, a partilha e levou a família.
Chico e Ana Rosa viveram em Fortaleza de 1831 a 1848. O casal teve 8 filhos: Maria Rosa de Jesus, Tereza Rosa de Jesus, José Francisco Barreto, João Francisco Barreto, Francisca Ana Rosa, Beralda Veríssima da Conceição, Antônia Maria de Jesus e Rita Rosa de Jesus, a Rita Parnaíba.
Chico Barreto morreu em 1848. Ana Rosa faleceu em 1852.
Em agosto de 1854, a família Barreto e Librina – já unidas inclusive por laços de casamento - estava toda reunida para cumprir a promessa feita a Chico e Ana Rosa. Era chegado o tempo de doar as terras ao patrimônio do Divino Espírito Santo. O documento foi assinado em 25 de agosto de 1854.
Recebemos, em 30/agosto/2011 o seguinte e-mail esclarecendo o parentesco citado na crônica acima:
Wilson Alves Garcia wilsonalvesgarcia@yahoo.com.br
Encontrei no livro Barretos de Outrora, de Osorio Rocha, de 1954 o seguinte: Joaquim Borges e Domingos Simão Marques, supõem que Ana Rosa de Jesus era irmã de Simão Antonio Marques, dono de Monte-Alegre, e não falta quem, talvez pela coincidência de nomes, julgue ser a espôsa de Barreto, irmã ou sobrinha do alferes João José de Carvalho. Meras suposições (tirado na integra do livro fls.)
Abraço, Wilson